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Inovação verde: a oportunidade para uma economia sustentável
A economia nacional enfrenta um dilema que é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade: como crescer de forma sustentável sem comprometer os recursos das próximas gerações? A resposta pode residir naquilo a que chamamos inovação verde, ou seja, no desenvolvimento de soluções tecnológicas, industriais e sociais que promovam simultaneamente competitividade e sustentabilidade ambiental.
Portugal tem condições únicas para liderar esta transformação, com uma forte tradição em energias renováveis e com talento emergente nas áreas da engenharia, da investigação científica e das tecnologias digitais. Todavia, continua a faltar a ambição de converter estas vantagens comparativas em estratégias económicas de longo prazo.
São vários os exemplos do potencial inexplorado neste contexto.
O setor energético
O setor energético é o exemplo mais claro. A aposta em parques eólicos, centrais solares e projetos de hidrogénio verde tem colocado Portugal no mapa da transição energética. Mas para transformar esse potencial em independência energética e em exportação de tecnologia, é necessário fomentar cadeias de valor locais, impulsionar empresas sólidas e investir em centros de investigação aplicados.
O setor da agricultura e alimentar
Por outro lado, destaca-se igualmente o setor da agricultura e alimentar, dois importantes setores no panorama nacional, impactos pelas alterações climáticas e cujo potencial não se pode reduzir a investimentos pontuais e reativos. O contexto climático de Portugal atualmente destaca as secas prolongadas e os solos cada vez mais exigentes, que trazem hoje desafios importantes para estes dois setores.
A resposta ideal passa pelas tecnologias de precisão, irrigação inteligente, cultivos adaptados ao clima e cadeias curtas e circulares de produção. Produzir mais com menos recursos é o caminho para gerar riqueza sem destruir o território.
Economia circular e indústria
Em paralelo, a economia circular é cada vez mais relevante, em particular no que respeita à indústria. Para o desenvolvimento do tecido empresarial português é cada vez mais importante a aposta na reciclagem avançada, no reaproveitamento de materiais e em novos modelos circulares de negócio. A aposta nestas soluções permitirá aumentar a competitividade das empresas nacionais, reduzindo as importações e assim contribuir para um desenvolvimento económico, bem mais sustentável.
Neste contexto, a inovação a este nível já não é uma tendência, mas antes uma exigência global, capaz de determinar a sobrevivência das empresas no mercado. Com a pressão de governos, populações e parceiros comerciais, o futuro da indústria depende cada vez mais da inovação que sejam capazes de imputar no âmbito da circularidade.
A Inovação Verde é assim uma temática inegável no futuro empresarial, sustentando os desígnios de várias economias, nas quais se insere a portuguesa. É exatamente por isto que existem hoje soluções muito diversas de financiamento para este tipo de projetos e que podem funcionar como a alavanca ideal para uma transição climática verdadeiramente disruptiva.
Soluções de financiamento para projetos de inovação verde
Assim destaca-se:
Portugal 2030 – Programas Temáticos
O plano destina cerca de €3.119 milhões para ações de ação climática e sustentabilidade e €3.905 milhões para inovação e transição digital. Os montantes elencados estão disponíveis em diferentes avisos para candidaturas em áreas como energias renováveis, economia circular, mobilidade sustentável e digitalização de processos.
COMPETE 2030 – Avisos a lançar
Nos próximos meses estão previstos novos concursos, com destaque para:
SICE (Sistema de Incentivos à Competitividade Empresarial)
— €544 milhões, destinados a inovação, digitalização e qualificação das PME.
SIID (Incentivos à I&D) e SACCCT (Criação de Conhecimento Científico e Tecnológico)
Com apoios relevantes para investigação aplicada.
Estes projetos contemplam apoios diretos, tendencialmente a fundo perdido, para despesas na vertente da transição climática, sendo também um elemento avaliado e valorizado nos processos de seleção de candidaturas.
SIFIDE II – Incentivos Fiscais à I&D
Candidaturas abertas até 31 de maio de 2026. Permitem recuperar até 82,5% do investimento em I&D. Apesar disso, apenas 0,62% das empresas têm recorrido a este regime, revelando subaproveitamento.
Os projetos de I&D destinados à área da economia circular, transição climática e redução de impacto ambiental podem inclusivamente beneficiar de uma majoração para as despesas relacionadas as quais são consideradas em 120% para apuramento do benefício.
Programa LIFE (UE)
Este instrumento foi criado especificamente com o objetivo de contribuir para executar e aprimorar as políticas e estratégias europeias em contexto ambiental. O programa foca-se por isso no apoio a projetos com valor acrescentado europeu nesta área. O orçamento disponível é de 5 432 000 000€.
Interreg NEXT MED
Cofinancia projetos de cooperação transnacional na bacia do Mediterrâneo, com foco em transição verde e resiliência climática.
Banco Europeu de Investimento (BEI)
Mobilizou em Portugal cerca de €4,9 mil milhões em 2024, correspondentes a 1,7% do PIB, maioritariamente para transição energética e infraestruturas verdes.
Capital privado e fundos de investimento
O ecossistema nacional de venture capital e private equity tem mostrado crescente interesse em projetos verdes — desde startups de tecnologias limpas a empresas de energia descentralizada. Em paralelo, investidores institucionais internacionais estão cada vez mais atentos a negócios alinhados com critérios ESG, o que abre portas para captação de capital estrangeiro.
Conclusão: a inovação verde precisa de ideias, mas também de capital
A inovação verde não é apenas viável; é necessária — e, agora, financeiramente possível. Portugal tem acesso a fundos europeus robustos, programas nacionais de incentivo, regimes fiscais atrativos e, cada vez mais, ao interesse de investidores privados e de parcerias público-privadas.
O desafio está em agilizar o acesso e em construir pontes entre o capital público e privado. O futuro não depende apenas da criatividade das ideias, mas da capacidade de transformá-las em negócios escaláveis e sustentáveis.
Se conseguirmos simplificar o acesso aos fundos e atrair investidores privados com visão de longo prazo, Portugal não só preservará o ambiente como reforçará a sua competitividade e autonomia económica.
A inovação verde, bem financiada e bem executada, pode ser o motor de uma economia mais forte, mais justa e verdadeiramente sustentável.