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I&D em Portugal: benefício fiscal ou financiamento direto?

SIFIDE e Portugal 2030: entenda as diferenças e como usá-los em conjunto

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Artigos de opinião
Setembro 23, 2025

I&D em Portugal: Benefício Fiscal ou Financiamento Direto?

Muitas empresas reconhecem a importância em investir em projetos de I&D em Portugal, sabendo que funcionam como motores de crescimento e competitividade. Contudo, nem sempre as empresas compreendem os diferentes instrumentos que têm à sua disposição para apoiar este tipo investimentos.

Em Portugal, destacam-se dois modelos com naturezas distintas, mas complementares:

  • SIFIDE – Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento Empresarial, que funciona como benefício fiscal;
  • SI I&D do PT2030 (em regime Individual ou em Copromoção), que oferece financiamento direto e competitivo a projetos focados em investigação, desenvolvimento e inovação.

Face a isto, surgem naturalmente duas questões:

  1. Qual a diferença entre estes dois mecanismos? e
  2. Quando deve uma empresa recorrer a cada um deles? E podem ambos ser articulados entre si?

É necessário desfazer estas dúvidas.

SIFIDE: benefício fiscal para reforçar o investimento em I&D em Portugal

O SIFIDE permite às empresas deduzirem à coleta de IRC uma parte significativa das despesas associadas a atividades de I&D.

As suas principais vantagens são:

  • Previsibilidade e estabilidade: o enquadramento fiscal do SIFIDE tem natureza plurianual, o que dá às empresas confiança para planear investimentos;
  • Abrangência: pode ser aplicado a empresas de todas as dimensões e setores;
  • Flexibilidade temporal: permite valorizar projetos já em curso, não estando limitado a janelas específicas de candidatura.

Contudo, apresenta também algumas limitações:

  • Não gera liquidez imediata, funcionando apenas como benefício fiscal;
  • Depende da coleta de IRC da empresa, o que pode limitar o impacto em organizações com menor volume de imposto a pagar.

SI I&D do PT2030: financiamento direto e competitivo

O Sistema de Incentivos à I&D do PT2030, em regime Individual ou em Copromoção, apoia financeiramente projetos de investigação, desenvolvimento e inovação.

Entre as suas vantagens, destacam-se:

  • Financiamento direto: atribui apoio financeiro a fundo perdido (parcial, dependendo da localização do desenvolvimento do projeto), aumentando a liquidez das empresas;
  • Caráter competitivo: projetos aprovados ganham visibilidade e credibilidade acrescida;
  • Foco estratégico: promove áreas prioritárias para Portugal e para a União Europeia, como a transição digital, a sustentabilidade e a inovação industrial. Na prática, pode apoiar projetos em qualquer área, desde que as atividades de I&D estejam bem fundamentadas e conduzam a uma solução inovadora, inexistente no mercado.

As principais limitações:

  • Concursos exigentes e altamente competitivos, com taxas de aprovação reduzidas a nível nacional;
  • Elevado nível de detalhe técnico exigido nas candidaturas, com necessidade de metodologias, indicadores e fundamentação científica;
  • Prazos definidos, exigindo planeamento prévio para alinhar o investimento com as aberturas de concurso;
  • Elegibilidade restrita: os beneficiários diretos limitam-se atualmente a PME, Small Mid Caps e ENESII (universidades, centros de investigação, laboratórios, etc.).

Complementaridade entre SIFIDE e PT2030

Apesar das diferenças, os dois instrumentos não são mutuamente exclusivos. Pelo contrário, muitas empresas beneficiam ao articular ambos os mecanismos.

Um exemplo prático:

  • Uma empresa candidata-se ao PT2030 – I&D Individual ou em Copromoção para financiar parte de um projeto futuro;
  • As despesas não comparticipadas por esse financiamento (por exemplo, custos não elegíveis ou não cobertos a 100%) podem ser enquadradas no SIFIDE, valorizando fiscalmente o esforço adicional em I&D.

É importante ter presente uma diferença fundamental: o SIFIDE aplica-se a projetos que já ocorreram, permitindo às empresas valorizar ano a ano as despesas realizadas. O SI I&D do PT2030, por sua vez, destina-se a projetos futuros e exige a apresentação de uma proposta completa desde o início, com elevado nível de detalhe técnico. Enquanto o SIFIDE é estável e retrospetivo, o SI I&D é competitivo, prospetivo e bastante mais exigente em termos de fundamentação e planeamento.

Critério SIFIDE SI I&D do PT2030
Natureza do apoio Benefício fiscal (dedução à coleta de IRC) Financiamento direto (apoio a fundo perdido parcial)
Temporalidade Retrospetivo – projetos já realizados Prospetivo – projetos futuros
Beneficiários Todas as empresas com coleta de IRC PME e Small Mid Caps em individual; ENESII apenas como copromotoras
Âmbito Despesas de I&D realizadas no exercício fiscal anterior Despesas futuras em investigação industrial e desenvolvimento experimental
Taxa/Intensidade de apoio Até 82,5% das despesas elegíveis (dedução fiscal) Até 80% (85% ENESII), mas apenas 40% na região de Lisboa
Liquidez Não gera liquidez imediata Gera liquidez (transferência de fundos)
Candidatura Anual (até 31 de maio do ano seguinte) Avisos de concurso com prazos definidos
Estabilidade Estável e previsível Concursos competitivos, taxas de aprovação baixas

Conclusão – I&D em Portugal

Assim, apoiar a I&D em Portugal não significa escolher entre SIFIDE ou Portugal 2030. Cada instrumento tem o seu papel:

  • SIFIDE oferece estabilidade e recompensa o esforço continuado em I&D;
  • Portugal 2030 – SI I&D garante liquidez e financiamento direto a projetos competitivos e bem estruturados.

Quando usados de forma estratégica e complementar, criam um ecossistema robusto de apoio à inovação, que permite às empresas transformar investimento em conhecimento, tecnologia e valor sustentável.

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